- O sonho:
Como seria o dia ideal do meu aniversário de trinta anos? Porque aniversário é aniversário e, para mim, datas têm significado especial. Mesmo que eu faça um ar blasé e diga que não me importo. Quem me conhece sabe que me importo sim.
Pois então, o dia do meu aniversário ideal seria assim: acordaria tarde, para ter brilho suficiente na pele para poder curtir a noitada.
Ficaria em casa, receberia alguns poucos e bons amigos. Os mais próximos, no sentido geográfico.
Teria feito a sobrancelha.
Navegado um pouco na internet, sozinha em casa, do jeito que eu gosto. Antes dos amigos chegarem. Teria descoberto alguma novidade, um carinho de alguém por mim. Teria tido tempo de responder pessoalmente a todas as felicitações de aniversário via Orkut.
Enviaria e-mails desencanados, de última hora, convidando aqueles que moram mais longe, para um bar legal.
Convidaria também aqueles que me ligarem, convidaria a melhor amiga dando um jeito de arrumar alguém para cuidar de seu bebê, além de carona cativa comigo lá no carro do namorado. Que viria antes do anoitecer e me esperaria colocar o vestido novo, guardado para esta ocasião.
Usaria alguns dos cosméticos que provavelmente eu ganharia.
Teria comemorado alegremente a virada de década na minha vida num dia especial com 25 horas.
(Se você que chegou até aqui decidir parar de ler, desculpo por antecipação. Este post, destas linhas em diante, é totalmente “diárinho”, no qual desabafo como foi meu dia. Escolho meu blog pra isto porque quando o criei, queria ter a liberdade de ter um local para escrever besteiras, novidades, coisas legais, pirações da mente e, principalmente, desabafar em ocasiões como esta. E como já ocorreram em outras vezes, não é necessário ler. Nem ficar com dó, ou preocupado, apenas entender que no meu espaço, sim hoje pelo menos isto, meu espaço, eu o usei para aliviar a alma.)
- A realidade:
Acordei cedo. E dormi mal. Naveguei na internet, postei no blog, comentei em alguns.
Recebi telefonemas, de parentes. Posteriormente visita surpresa. De uma tia e de uma prima (esta que há anos não via). Sinceramente, para quem anda pouco sociável e chegou ao cúmulo de desligar o celular e não atender telefonemas um dia antes porque não queria contato com o mundo, este não era propriamente o tipo de visita que eu desejava.
Ter que fazer sala, tratar bem, não ter tempo de banho, sorrir, não tirar a sobrancelha, não poder enviar os programados e-mails nem convidar os amigos dos telefonemas.
Oras, eu tinha visitas.
Fazer comida. Ajudar a localizar a fôrma no fundo do baú porque minha tia gostaria de me fazer um bolo (sem farinha, para quem não pode comer glúten, um achado, e eu posso comer glúten).
Sim, estou altamente intolerante.
Apertar o power do computador e antes mesmo de sentar em frente à tela, ceder o lugar à sua tia que na cara larga senta dizendo que ia ficar só um pouquinho, para esta enviar um scrap para mim mesma de feliz aniversário e ficar olhando as fotos do meu
álbum pacientemente na internet.
Recebi alguns amigos queridos, que me trouxeram cosméticos. Mas estes não pude deixar à vontade. Tinha visitas de cerimônia: a família.
Preparei alimentos, destrinchei o congelador, pouco tinha a oferecer à pessoas do nível parentes que podem pensar que por você morar só e não fazer comida é irresponsável. Talvez nem pensem, mas dado o grau de não intimidade, melhor não fazer feio.
Daí que chegou a noite, as visitas ainda em casa, e não sonhando que meu mais íntimo desejo desde o meio dia era a paz da solidão, acho eu que estavam com dó de me deixar sozinha, porque o namorado ainda não tinha aparecido, falaram que iam embora, por educação disse: “assistam a novela, depois vocês vão”.
Bingo! Assistiram a novela.
Horário em que o namorado chegou.
Este, um caso à parte, seu carro entalado na oficina. Ele que precisa do automóvel, está sem casa, quase sem emprego e com o mestrado tendo que ser defendido... Bem, seria injustiça exigir que ele abandonasse tudo para ficar comigo no dia do meu aniversário. Ajudar a fazer sala para as minhas visitas enquanto eu faria os poucos telefonemas de última hora.
Sem tempo para e-mails.
Eu sem tomar banho, cabelo num coque, suada porque é verão e o ar condicionado do planeta está ligado no quente. No máximo.
A Carla, entre sorrisos com as visitas, que se avolumaram na sala para ver a novela, idas a cozinha preparando os últimos salgados e espetinhos... Uma choradinha escondida.
Fim da novela, literalmente, as visitas se foram. Eu lavei a louça.
O namorado cansado, cheio de problemas, dormiu no sofá.
Peguei um livro, deitei na cama.
Visualizei as duas meias noites do meu querido aniversário passando. Pronto, acabou.
Não saí. Tomei banho.
Pensei em como sou infeliz.
Chorei de verdade. Com vergonha de mim. Vergonha dos outros, vergonha de ser triste de causar pena ao ter que assumir para todo mundo, ao ser questionada amanhã, em como foi o dia, e eu não ter coragem de dizer: “uma bosta”.
O namorado para se desculpar, contou os problemas. Eu não briguei, mas também não fiz papel de namorada. Culpa.
Culpa por saber que minha tristeza foi por mim causada. Culpa por não ter forças para acalentar a alma do ser que amo.
No dia do meu aniversário.
E a melhor amiga, também não ligou.
Sonho que se sonha sozinho, continua sendo sonho.
(Desabafei... Um passo para eliminar o buraco enorme do peito e o nó na garganta que nem os remédios para depressão curam, porque o vinho, ah, o vinho já cortou o efeito...)