De tantos micos colecionados ao longo da vida nos mais variados temas, escolhi postar sobre meus micos com carros. Dada minha tendência Chaves de ser, posso me dar ao luxo de dividi-los em fases do pré e pós desenvolvimento como motorista.
Quando ainda não dirigia:
Em uma bela manhã perto de casa, num ponto de ônibus, estava eu ali na espera para ir ao trabalho. Todo mundo sabe que quem está parado lá vai “pegar” um trem, pois os coletivos que naquela parada passam têm como destino uma das duas estações próximas. Natural demais aparecer uma carona de um amigo.
Bem lá estava eu, sonolenta e talvez mais chaves ainda por isto, vejo um vizinho, daqueles que moram na mesma rua e o grau de intimidade é apenas um simples “oi” ou “bom dia”, encostando-se ao meio fio e gesticulando na minha direção oferecendo uma carona. Ainda hesitei, mas como percebi apenas a minha presença naquela hora do dia no ponto, caminhei em direção ao carro.
Assim que abri a porta dianteira, percebo a gafe. O convite não era para mim, e sim a um amigo íntimo e contumaz caroneiro dele, que já estava abrindo a porta posterior (sorte o carro ter 4 portas nestas horas, senão a confusão seria maior). Percebendo o mico e já craque em fingir não perceber situações micadas por mim provocadas, sento bela e formosa no banco da frente enquanto o tal amigo sentava no banco traseiro totalmente confuso e meu vizinho mais transtornado arrancava dali com o carro, pois a esta altura todos estavam envergonhados, num silêncio constrangedor que foi quebrado com um óbvio “vai pra estação?”. Eu disse sim, ninguém tocou “no assunto” e ele passou a me oferecer caronas de verdade, onde um papo menos frio foi surgindo dia a dia.
Na fase de praticar a direção:
Já habilitada, no meu atual trabalho, quando da época da contratação fui questionada se “sabia dirigir”, com sinceridade respondi “tenho carta, mas não carro, daí a dizer que sei dirigir há uma grande distância”. Até evitava pegar nos carros, mas meu chefe pregando que cada vez que eu convidava algum colega a me levar a algum lugar estava perdendo dois funcionários num serviço só, delicadamente me mandou um recado dizendo que se eu tivesse medo de dirigir deveria começar a perdê-lo.
Obediente que sou, passei a me aventurar nas ruas internas do residencial e posteriormente em serviços externos. Um belo dia me propus a buscar um dos carros que estava na retifica refazendo o motor, aproveitando que precisava resolver um problema de iluminação publica na Eletropaulo, já na ida esqueci o cheque do pagamento do serviço no ônibus quando deste descia para pegar um outro que cortava caminho, percebendo a tempo, desço esbaforida deste e fico a esperar pelo primeiro, onde o gentil motorista me entregou o envelope cheio de vontade de rir da minha trapalhada.
Voltando ao condomínio naquela viatura que servia aos serviços internos de segurança resolvi pegar uma estrada que cortava caminho tendo que passar por uma rotatória. Cumpre esclarecer que em Barueri, estas praças desobedecem tudo que aprendi na auto escola e no curso de traçados de estradas da faculdade de que a preferência na direção é de quem nelas estão. Claro que esta discrepância da lei, desconhecida por mim, pela primeira vez ali não resultaria em boa coisa. Preocupada com o caminho, dirigindo devagar por causa de estar reconhecendo o novo motor do carro e por puro reflexo da via que ali chegava não corri, mas mesmo a vagareza proposital não foi suficiente para evitar que surgisse um motoqueiro na minha frente, se estrebuchasse no capô do Gol e em questões de segundos se estatelasse no asfalto – a moto voou longe.
Correria com policia, confusão com pessoas na rua confundindo o veículo da zoonoses com uma ambulância e eu gritando “este não, é de carregar bichos”, fui ao hospital, com o carro sendo guiado por um dos policiais que tentavam me acalmar (eu não estava machucada), mas o desespero me impedia de agir normalmente e tive a sorte de ser vista entrando no pronto socorro por um amigo (Zhé) que muito prestativo me acompanhou a delegacia e deu apoio moral o tempo todo.
Meus chefinhos não poderiam ser melhores, compreendendo a horrível desempenho da rotatória, sabendo dos inúmeros casos de acidentes ali ocorridos, me deram apoio e politicamente corretos me orientaram a ligar para o rapaz no dia seguinte, oferecendo remédios.
Adivinhem o que a mulher dele me pediu? Carona para levar seu marido para fazer os curativos no hospital! Como a lei de Murphy impera na vida de quem é mais do que atrapalhada como eu, nenhum funcionário habilitado do condomínio estava a disposição aquele dia. Retorno à ligação a casa do simpático enfermo e questiono a sua esposa se ele teria coragem de ir comigo de carro. E ele aceitou! De posse desta vez da Saveiro, chego em sua residência e sou mais que bem recebida, com cafezinho acompanhado de uma proposta: como na Saveiro só caberia o motoqueiro e eu, fui convidada a guardar o carro do trabalho em sua garagem e dirigir o carro do cara que eu havia atropelado um dia antes.
E o incrível de tudo não para por aí, o carro era um Gol velho, 4 marchas e tinha um cabo de acelerador mais duro que tudo. Orientada por sua esposa a pisar fundo, pois senão o carro mal andaria ainda tive que ouvi-la reclamar com o marido dizendo “está vendo, ela que sabe (!) dirigir está tendo dificuldade com esta velharia, você reclama de mim que ainda estou aprendendo...”. Tremendo mais que vara verde, não podia acreditar que aquela história era real e eu uma das personagens.
Já sabendo dirigir:
Resolvemos eu e uma amiga (tão chaves quanto eu e a quem devo o batismo do apelido) nos aventurar pelo centro de São Paulo, numa área nobre e badalada em barzinho da moda.
Conversando distraidamente, já havíamos chegado à Avenida Faria Lima, endereço do bar que seria comemorado o aniversário de uma outra amiga, paradas no “congestionamento” por mais de dez minutos comentamos a nossa sorte de ter escolhido a única fila que não andava daquela pista. Mais uns cinco minutos se passaram para ela perceber que o motorista da frente não tinha cabeça, que se o carro estivesse andando, só poderia estar sendo guiado por controle remoto ou uma espécie de piloto automático. Para cair a ficha de que estávamos literalmente estacionadas, numa perfeita baliza atrás de outros veículos na mesma condição, precisamos abolir a vergonha, pois tudo isto estava acontecendo na calçada oposta ao lugar que deveríamos nos encaminhar em seguida. Com cara de paisagem dirigi meu possante até o manobrista e mais uma vez como se nada tivesse acontecido, entreguei-lhe a chave e com passos de miss fomos até a recepção. Não sem dar muitas risadas depois com a bela mancada.
Então, quando disser que sou chaves, ou roteirista natural de boas histórias para o Retrato Falado, espero que ninguém nunca mais duvide deste dom a mim concedido desde o nascimento.
PS: Post que faz parte do projeto mico publicável do Leonardo.
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